Colega de turno, um inglês delicioso. Rara a noite em que não haja risada da grossa, pelas piadas que conta, mas também pelas expressões que usa. Avô recente, diz da filha «she’s like a dog with two tails with that baby», de cerveja morta dispara o «flat as a witch’s tit», de um velhote alemão apoiado em andadeiras que se peidou numa fila para atendimento nos correios gerando uma onda ruidosa de indignação « …poor old bugger. It didn’t smell. But what a sound! Just like the ticking of an old v8!»
Há coisa de meia dúzia de anos tínhamos colega turca de vinte e poucos. De família muçulmana, emigrante de segunda geração, ao pendular entre a família conservadora e a sociedade libertária, parecia completamente desarmada de regras sociais equilibradas. Certa noite vem com a conversa das mamas. Que eram pequenas, que queria fazer a operação para aumentar. Como tinha extrema confiança em nós ia para abrir o dólmen e mostrar os atributos. Ralhei com ela, que se alguém ali aparecesse de súbito a gozariam durante seis meses. Lá se conteve, mas continuou com a conversa. Prevendo que uma operação lhe levasse as economias de anos, fui contando a história da beleza interior e que nenhuma relação homem que a escolhesse só pelo volume valeria a pena. Quase convencida por mim alisa o dólmen, põe as mãos por baixo para evidenciar o tamanho e pergunta-lhe a ele do outro lado: «o que é que achas?». Sério, com olhar concentrado no peito da rapariga,
– Well, I’ve seen more meat on a butchers apron.
ahaha, é por estas e por outras que sou fã do humor inglês, A frase final é magnífica.
O tipo é uma delícia e tem um manancial de anedotas inesgotáveis. Como a dos velhotes num pub rural, aos pés da mesa a cadela de um, que se enrola sobre si própria e começa a lamber a genitália. Um deles, achacado de artroses várias, desabafa:
– I wich I could do that.
Diz o dono do animal, despercebido, lançando-lhe olhar de desvelo:
– Oh yes, you could. A good dog indeed… It wouldn’t bite you.
ahahah, Santo Deus, que confusão para ali vai.
Eu cresci a ver as séries da BBC (“Sim, senhor ministro”, Benny Hill, Monty Python, Fawlty Towers) deve ser por isso que sou fã.