No vôo doméstico de Curitiba ao Rio, um rapaz estreitinho, pala do boné à retaguarda, camisa de flanela quadriculada, nas costas o vocábulo «gangster». Aos movimentos da cabeça no chalrear com os colegas respondia o encosto da cadeira atravessando-lhe o boné. Lá lhe alinhava a pala com bissectriz do magro cachaço, cofiando-a, como se extensão capilar. Vez após vez, sem nunca se decidir voltar a pala adiante, paralela ao nariz; a maneira mais simples de resolver o assunto.
Apreciando a manobra juvenil, fui sorrindo dos trabalhos e incómodos da imaginação, a frase de Samuel Johnson (de um outro dia de Maio em 1778) a saltar a terreiro do arquivo cachimonioso:
“Were it not for imagination, Sir, a man would be as happy in the arms of a chambermaid as of a Duchess.”
🙂 Já me fez sorrir com o cuidado do rapaz em repor o adereço e o Johnson a saltar-lhe de cachimónia a propósito. Imaginação e memória, bela combinação.
Não escrevo isto como condenação ou crítica. Todos ou temos ou tivemos manias que são equivalentes àquelas, e mal de nós sem um pouco de imaginação (segundo o Gedeão, o mundo pula e avança disso). Por mim até gosto de ver diferença de estilos, mesmo excessos e excentricidade. Vim apenas divertido a ver o trabalho que aquilo dava.