Para desanuviar, pescado na caixa de comentários deste post do Vida Breve e com a devida vénia ao autor que assina por Caramelo:
“Mas a direita tem um direito natural ao poder e nessa qualidade compete-lhe escolher quem acolhe no seu seio. Temos o pai, que vela, a mãe, que governa a casa, e o filho natural que, logo que deixa de usar calções é autorizado a sentar-se à mesa. E depois há aquele primo em terceiro grau que nasceu num quarto dos fundos, à esquerda, num canto mal iluminado, onde já os pais e avós tinham nascido, que por causa disso é geneticamente defeituoso e que volta e meia pega em fósforos e mete fogo aos cortinados, mas que dá jeito para ir buscar o pão à padaria. Ora, deu agora ao miúdo para ir brincar com aqueles gandulos que moram nas barracas da extrema esquerda da rua. Quando a direita mais moderna, mas sempre respeitadora da família, fala em falta de responsabilidade, é a esta desgraça que se está a referir. O patriarca Cavaco teve de dar um berro, claro. Não se discute a NATO, Não se discute o pacto orçamental, etc. Não se trata da lei, não se trata sequer da legitimidade democrática, mas sim da tradição, que vai em linha reta até às decisões sobre quem ia levar as ovelhas ao pasto da assembleia dos anciãos e homens bons dos montes hermínios.”
O caramelo é tão bom. Já o tentei persuadir a escrever para o meu blog, numa altura em que me dediquei mais à arte da coisa, e disse-me que não.
Eia! Foi mesmo! Obrigado, soliplass e Luis Jorge.
Bom, pelo menos dá para ir citando.
Isto por si só dava um tratado de Direito Natural suficiente ao arco. Em vez de mais tarde terem que andar a matar a cabeça dom Suaréz, Pufendorf e Locke na Junqueira, ia-se desde cedo ensinando isto aos “piquenos” ao mesmo tempo que a tratar os primos por você. Poupava-se grandes trabalhos e despesas.
“Assim, aos nove anos, com a presciência que me amaldiçoou desde então, compreendi que o socialismo tinha corrido horrivelmente mal. Não falei do episódio com o meu pai: ele ainda ficou uns anos no MDP, e creio que foi candidato a deputado — mas nunca mais o vi desencorajar, com familiaridade estudada, os pobres diabos que insistiam em tratá-lo por senhor engenheiro.
Por causa das merdas.”
Desde o séc. XIX que considero o Caramelo uma excelência de escriba e que o único defeito que lhe assiste é (bom, ele lá terá as suas razões, concedo) não ter casa onde se possa entrar e ler, refasteladamente, que para isso tenho que ir ler o Vida Breve e o dono do espaço tem uma certa petulância à la Ferrero Rocher.
Digo eu, com a exacta noção de que as opiniões são opiniões são opiniões.