ainda há um cheirinho de inverno, a uma hora por estrada a norte de Oslo
gelo à dependura nas escarpas
o drikketrau oferece ainda só um fiozinho tímido, o degelo vai vagaroso,
escasseando a água, uma velha aquavit faz as honras da casa e produz elogio a tão honrado alambique – que Deus o conserve,
e um café, fervido em cafeteira velha e encarvoiçada, vestígio arqueológico do tempo viking (se as nossas mulheres vissem uma coisa destas nas suas cozinhas soavam as tropetas do apocalipse)
a floresta em volta acorda da invernia, a passarada pressagia dias melhores com seus trinados e assobios,
E no inverno que finda prepara-se o próximo. Dois dias a rachar lenha, urros de moto-serra, estalar do cepo cedido ao aço
mas mesmo em sítios de tal rudeza, lugar se arranja para um brie flambejado em Calvados, suprido com uma compota de bagas da floresta por sobremesa de merecido jantar,
E o fruto do trabalho cresce. O velho livreiro, que me encheu a casa de literatura, terá lenha para outro inverno. E eu – por confessar que passei os últimos dois dias a rachar cavacas -, tenho este blog para sempre desqualificado entre a intelectualidade lusa. Tragédias piores haverá, e assim seja.
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